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fevereiro 24, 2017

OS SENTIDOS DA MEDIUNIDADE

     

     Falar sobre a complexidade que envolve a mediunidade, me faz rever em minha memória o período de vinte e um dias de minha iniciação.
     Há, entre tantas coisa que acontece nesse período, muitos momentos que rezamos os ingorossis(rezas sagradas). Lembro-me de minha Mam´etu Nidenge Katulokô e de meu Tat´etu Nidenge  Tauágenan que pacientemente, me ensinavam os primeiros passos de um Muzenza, ainda cambaleando aqui ali nas pronúncias das palavras.
      Carinhosamente Eles repetiam palavra por palavra, até que eu pudesse entender e pronunciar ainda que muito tímido as palavras sagradas. Nesse tempo não se podia escrever, tudo era ensinado boca/ouvido.
       
 BOCA, OUVIDO, OFATO, VISÃO, MENTE, MÃOS E PÉS.

     Estas partes do corpo em uma iniciação são lavadas, louvadas, rezadas e sacralizadas para que estejam prontas para receber e doar o Ngunso(axé), e isso acontece  por muitas vezes durante a iniciação.
      São estes sentidos que com o passar do tempo através das obrigações anuais iram fortalecer em nosso corpo para que possamos estar pronto para percebermos, sentirmos e mesmo vermos a espiritualidade com mais clareza e sabedoria, assim como deve ser um "Mais velho" graduado.
Seja Tata ou Negua T´inkisse, Xicarangomes e Makotas, Kotas entre outros Tat´etus e Mam´etus.
      Cada um destes sentidos definirá qual o tipo ou tipos de mediunidade a pessoa melhor desenvolverá ao longo período de sua iniciação, que se completará após os sete anos.
      
       O tipo de mediunidade mais comum no candomblé é a de incorporação. A palavra      IN CORPO R AÇÃO         significa:

IN (dentro ou de dentro);
CORPO  que pode ser físico ou espiritual:
AÇÃO ou VERBO(ato de movimentar ou realizar algo).

    Basicamente é a ação de um corpo de dentro de outro corpo, isso fala claramente sobre NTU (um corpo dentro de outro corpo). Para nós que seguimos os costumes Bantu, dizemos que é a ação, de um Inkisse(Orixá), presente dentro de cada um de nós.
      Essa ação do Inkisse pode ser voluntária ou involuntária depende do grau de desenvolvimento mediúnico espiritual de cada um de nós. Quando ainda somos Indumbe, quer dizer não iniciados e até mesmo em graus mais elevados do estágio Muzenza, essa ação é involuntária e com a elevação espiritual ou grau iniciático essa ação passa a ser mais voluntária, mas nunca perde a involuntariedade.
     
      Os sentidos da mediunidade é percebida diferentemente por cada pessoa. Os Xikaramgomes(ogans) e Makotas(ekedes) em uma confirmação tem todos os seus sentidos mediúnicos desenvolvidos, pois como todos os outros precisam estar em contato com o mundo espiritual durante os acontecimentos em uma casa de santo, porém  aparentemente não entram em estado de transe, mas estão espiritualmente ligados a esses acontecimentos sem inconsciência espiritual parcial ou total.

      Os iniciados que entram em estado de transe espiritual tem todos os seus sentidos espirituais desenvolvidos, e precisam ter, para não entrar em conflito com o Inkisse(Orixá) e com ele mesmo.       Uns desenvolvem mais um sentido do que os outros sentidos e isto causa muitas dúvidas sobre o virar no santo. É a complexidade mediúnica, mas com o passar dos anos de iniciação essas dúvidas (viro não viro), são sanadas a partir do momento em que a confiança, as obrigações anuais, os ensinamentos e a intimidade com a Divindade aumentam e o NGUNSO se torna mais forte mais presente.
      
      O processo de aprendizagem das danças sagradas, não é somente aprender os movimentos do corpo, mas aprender na dança a incorporar uma Divindade, não exatamente virar no Santo(entrar em transe), mas sentir a força da Divindade no próprio corpo (Xicarangombes e Makotas), como um ator que encorpora seu personagem em cena. 
      Há movimentos do corpo próprios para cada Inkisse. Como por exemplo movimentar-se na dança como um velho que é o caso de alguns Inkisses ou como um caçador ágil e esperto, isto é incorporar ou seja sentir na própria pele(corpo), sem necessariamente entrar em transe.
   
     Todos os sentidos da mediunidade equilibrados em um corpo proporcionará, maior facilidade do transe mediúnico de uma Divindade ou Entidade. Os chamados "rodantes" pessoas que entram em transe mediúnico, quando os sentidos de sua mediunidade são bem desenvolvidos resulta em uma incorporação de transe com a Divindade ou Entidade em um perfeito equilíbrio que o simples fato da pessoa virar no Santo todos a sua volta perceberam a energia que o seu corpo em transe transmitira em todo o ambiente, isto é quando percebemos a energia da Divindade/Entidade.

      

      
       
        

fevereiro 17, 2017

SACRIFÍCIO ANIMAL OU VALORIZAÇÃO DA VIDA

     Desde que o ser humano apareceu na terra, Ele sempre foi um admirador da natureza, sempre foi um contemplador da natureza e sempre procurou preservá-la, pois da natureza ele sempre dependeu.

   A criação da terra, o mundo material é retratada em várias culturas e de vários povos tão diferentes mas, sempre se fala de uma divindade suprema o grande criador de vida, e em várias destas histórias a grande divindade suprema cria divindades "menores" na criação do mundo material e os coloca cada um como regente ou responsável por um ou vários elementos que compõem o mundo material.

    O ser humano é criado da massa matéria e contém em seu corpo todos os elemento dessa mesma matéria divinizada,  em maior ou menor quantidade. Isso faz com que o nosso corpo tal qual a massa terra faça parte da natureza que foi criada pelas divindades que são representadas por cada elemento que compõe a terra ou seja em nosso corpo existe um pouquinho do axé de cada divindade, que todas elas reunidas em nosso corpo nos torna seres sagrados, divindades encarnadas e que através de rituais de iniciação essas divindades são despertadas e se manifestam e podem se materializar em nosso corpo podendo assim estarem mais em contato físico com os seres humano seus descendentes.

    A vida contida em cada ser animado ou não ela é sagrada e esta de alguma forma vinculada a matéria e pertence a grande Divindade criadora de vida - Deus, Zambi, Olorum, Tupã, Olodumarê, Odim, Ala ou seja qual for o nome que culturas diferente usam para se referirem a Divindade que gerou toda a vida.

    A terra como corpo celeste está em constante movimento assim como os outros corpos celestes, e se há movimento há vida.
Segundo pesquisas a terra tem um rotação de oito mil quilômetros por segundo isso quer dizer que a massa terra gira em torno de si mesmo com uma velocidade tão incrível que nós não podemos perceber.
    Esse movimento propõe que a expansão da vida é constante, dentro de um ciclo vital;  nascer, crescer, desenvolver, reproduzir, amadurecer e morrer(ser restituído), isso é um ciclo completo de uma vida animada ou não.
     Para cada um destes ciclos da vida existem divindades que correspondem a eles, e que são cultuadas nas casas de Santo.
      
    A vida é sagrada pois sua origem é divina, quando usamos o chamado sacrifício animal seja para alimentação ou transferência de vida, não estamos cometendo nenhum ato de maldade ou de barbaridade, a vida contida em cada ser quando é tirada seja por qual motivo, ela retorna a sua origem, existem divindades responsáveis por este movimento de tornar ou retornar a essência da vida para sua origem, em fundamentos de santo ou em simples abates para consumo de carne.
Não é o ato em si de ceifar a vida de um animal que é cruel mas o método utilizado.
    
    Cada líder de uma religião que tem em seus princípios o sacrifício animal, deve ter consciência de que a vida contida em cada ser vivo é simbolo do Próprio Deus gerador de vida é como se fosse Ele próprio naquele momento de sacrifício.
La nas histórias do "cristo sacrificado" quer dizer crucificado, isso se torna bem claro.
Cada vida animal sacrificada em fundamentos ou para alimentação representam; um como alimento do corpo que é sagrado e outro como alimento da vida contida no corpo.


   " Toda a natureza animada ou não, esta em perfeito equilíbrio em um ciclo vital de restituição vida e morte".