Falar desta divindade para mim é um grande privilégio, pois é uma divindade muito
conhecida no meio do povo de Santo.
Muitas são as lendas que envolvem este Inkissi (orixá).
Uma delas diz que:
Ogum filho de Yemanjá, violentou sua própria mãe, e como
castigo Olorum o “rebaixou” na condição de Exu.
Como se rebaixar Ogum, um Orixá para a condição de Exu fosse
uma punição, colocando Exu como algo ruim, coisa do mal de péssima índole é
como se Exu fosse uma divindade menor que o Orixá Ogum.
Para os leigos da matéria, é como se Ogum transformado em
Exu, se transformasse em uma coisa horrenda.
Essa lenda nos explica claramente como o Orixá Exu, em uma
de suas múltiplas funções, consegue transformar uma atitude ruim em positiva.
Transforma o mau em bom.
Transforma o que inútil em útil.
Transformar o difícil em fácil.
Entre muitas outras funções.
Exu pode ser o veneno ou o remédio para nós, só depende da
dosagem.
Depende da maneira de como usufruímos de um poder de
realização tão imensurável, que não se pode medir, sem começo e nem fim,
simbolizado pela esfera.
Voltando a lenda.
Ogum (o ferro bruto), nós não conseguimos modelar, mas se o
forjarmos elevarmos o ferro eu alta temperatura, nós conseguiremos dar a forma
e utilidade que quisermos.
Exu ai então é simbolizado pelo fogo, que transforma o ferro
(Ogum), em algo melhor.
Ele (Ogum), não deixou de ser ferro apesar de passar pela
transformação permitida pelo fogo (Exu).
Apenas foi transformado em algo melhor.
Exu nessa lenda de Ogum é o transformador, aquele que
transformou a atitude de mau “filho” que Ogum assumiu, em algo benéfico.
FERRO SENDO MODELADO |
Pois nessa mesma lenda conta-se que a Mãe de Ogum, Yemanjá, tanto chorou pela atitude do filho que de suas lágrimas se formou o mar.
Não o mar (oceano), mas o mar onde nós podemos nos banhar
sem nos afogar nas profundezas do oceano (kalunga).
O mar com suas ondas que empurra para fora de suas águas o
que não deseja, é simbolicamente a atitude de Yemanjá (Ogunté – kunkuêtu),
empurrando para longe de si a atitude do filho (Ogum).
As ondas do mar é como se Samba Kalunga (Yemanjá), o oceano
chorasse eternamente pela má atitude do mau filho.
As ondas são suas lágrima.
As ondas são suas lágrima.
São muitas as lendas que se refere ao orixá Ogum, e muitas
delas Ogum tem atitudes irascíveis, e esse comportamento de Ogum o aproxima a
todo o tempo de Exu o transformador.
Em muitas dessas lendas eles se confundem entre si.
Onde está um, está o outro, companheiros inseparáveis, vivem
juntos nas estradas pelos caminhos, comem juntos.
Esse companheirismo é tão forte que Ogum representa exu em
muitos fundamentos e vice versa.
Não se inicia filhos de Exu sem a presença de Ogum, pois em
alguns desses fundamentos de iniciação Ogum substitui Exu.
São energias completamente diferentes.
Não se faz Exu em filhos de Ogum, pois a energia de exu
poderia ultrapassar a energia pessoal do filho causando muito transtorno até
mesmo a morte.
Ogum Xeroquê, Ogum de Ronda, Roxi Biolê e Incossi Mavanbo,
essas divindades não são Ogum e Exu ou divindades duplas, como se diz santo
Metá, mas uma única divindade.
É como falei no inicio;
Ogum (o ferro) elevado a altas temperaturas se torna maleável e é modelado, em formas de objetos que melhoram a vida, mas Ele Ogum (o ferro),
não deixou de ser ferro, é a mesma natureza transformada.
Então podemos dizer que:
Todos os objetos de ferro utilizados por nós é a ação de Exu
o transformador, tornando a vida no mundo para nós seres humano mais fácil.
Primeiras ferramentas modeladas em ferro na idade do ferro |
Talvez por isso Ogum Xeroquê é conhecido pelos antigos sacerdotes da nação Angola como a “chave de ouro”, aquele que nos ensina a sermos pessoas melhores e a caminhar com dignidade na vida.
É a Ele que, pedimos ajuda quando alguém está em maus
caminhos.
É a Ele que pedimos para transformar a má ação das pessoas
contra nós, em prosperidades a nosso favor.
É Ele que, assentamos nas entradas de nossas casas de santo
para nos guardar das coisas ruins.